quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

EM PROSA

Tanto tempo sem escrever! Falta poesia? Falta tempo? Falta vontade?
A poesia se esconde e por um tempo a prosa se mostra em lembranças e sensações. Neste espaço de prosa e verso, busco na memória as lembranças, as sensações e compartilho momentos vividos e pensados.  Um outro rumo para a expressão, quem sabe, mais constante...

CORES
                                          Verdes da Avenida Champs-Élysées em Paris
As cores da natureza sempre me impressionaram. Lembro-me de momentos intermináveis, na rede, na varanda da casa tão sonhada, de minha mãe, apenas a olhar o azul do céu e as nuvens que corriam, ora rápidas, ora lentas, em formas que a imaginação identificava.
Tardes inteiras de contemplação do azul, do branco, do dourado... O livro, deixado de lado, aguardava o reencontro com a leitora que, embevecida, esquecia enredos e apenas contemplava.
Até hoje o céu, seja ele azul, cinzento, ou negro, atrai meu olhar.
Em minhas viagens, as cores, não só da natureza, mas das criações do homem também me encantam e eu tento descrever àqueles que me rodeiam, as cores dos lugares em que estive, seja por breves momentos, seja por alguns dias...
E, sem dúvida é de Paris que vêm as lembranças coloridas mais fortes.
Os verdes de Paris!
São indescritíveis! Os jardins, em sua simetria, trazem tantas tonalidades de verde que é difícil de explicar. Vão do mais claro, esbranquiçado, ao mais escuro, terroso, verde negro. Caminhar por entre alamedas frescas e perfumadas revigora, acalma, alegra.
Essas lembranças, que compartilho, me fazem feliz, apenas... por lembrar. Em momentos de muito cansaço ou de preocupação, são elas que me fortalecem, me animam e tornam o dia a dia mais fácil.

segunda-feira, 7 de março de 2011







Identifico-me com a música de Ivan Lins:




São os outros olhos, ávidos de todas as cores,




que eu tenho que arregalar pra aprender a ver




Sem nenhum rancor, sem nenhum temor




de não entender.








Com os olhos extasiados vivenciei a beleza que compartilho neste espaço.



sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011


EU NATUREZA

Pés no chão, mãos na terra,
sou natureza,
identifico-me com o cosmo,
passado e futuro em mim,
no presente.
Sinto raízes em meus pés,
seiva corre em minhas veias,
sou parte do mundo,
sou todo, sou eu...
As dores sentidas, sinto-as na pele
rugosa em caule, macia em pétalas.
O vento e a chuva me fustigam
e eu sou ar e água,
sou tormenta e calmaria.
Eu e o mundo,
identificados, unidos, resumidos,
ser, universo,
sem fim.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Sem palavras

Ontem vi meu irmão chorar
e chorei junto,
sem lágrimas, ao seu lado,
sem nada dizer.

Senti a fragilidade humana
e a pequenez das palavras,
nada a dizer, tanto a sentir...

Hoje vi meu irmão sorrir
e sorri com ele.
Novamente nada foi dito,
a emoção se sente e compartilha
não há palavras para traduzir.

domingo, 23 de janeiro de 2011

Entardecer de ócio



Aos meus amigos, a quem gostaria de oferecer uma tarde assim.



Todos deveriam ter o direito de desfrutar de um entardecer de ócio. Todos, sem exceção, de todas as cores, credos ou procedências, jovens, adultos, idosos, deveriam, por direito, usufruir da beleza do por do sol, em perfeita ociosidade.

Bons ou maus, não tão bons, nem tão maus, pobres e ricos, trabalhadores e proletários, comunistas, socialistas, imperialistas, capitalistas e todos os "istas" possíveis, nenhum deles seria privado do direito de contemplar, imóvel e em completo descanso, o róseo do céu, o vermelho do sol que se põe no horizonte.

E ainda todos aqueles que amam e que odeiam, que choram e que riem, seja por alegria, seja por tristeza, seja por inveja, seja por raiva, os sinceros e os falsos, os cínicos, os irônicos, os confiáveis e os amáveis: sim, todos eles deveriam ter esse direito e dele usufruir...

Seria um entardecer de plena paz: sem desejos nem anseios, sem planos e decisões, sem projetos, sem perspectivas: apenas o céu e o sol. Mas também não haveria mágoas ou tristezas, lembranças e saudades, dores e temores. Nada. Apenas a tarde.

E a tarde seria bela: o céu de um azul perfeito, algumas nuvens, por que não? Afinal é possível a magistral beleza de um céu em que as nuvens deixam escapar feixes de luz.

No horizonte, aos olhos extasiados, se mostraria o rosa, o lilás e o dourado, emoldurando o disco vermelho que se despede, aos poucos, prenunciando a noite.

A tarde seria também perfumada e sonora. Perfume de flores no ar, nada forte, nada intenso, nada que perturbasse o recolhimento e o prazer daqueles instantes em que o tempo deixou de existir. Sons de pássaros, em voos rápidos, aos pares ou em bandos, ou ainda solitários, completariam a festa dos sentidos, sons e aromas, cores e luz, perfeição.

E nesse entardecer de ócio, total desprendimento de tudo que parece ser tão importante: coisas, pessoas, ações, até o tempo pareceria imóvel: uma pausa, um hiato, um momento de puro deleite, de entrega e interação. Seriam todos apenas um: ser e natureza, integrados. Sem pressa, sem tempo, sem nada.

Apenas a tarde.